HISTÓRIA
DE VIDA ...
O
projeto Balão Azul nasceu da iniciativa de um casal, André e Gisele
Vasquez que lutaram muito pelo
diagnóstico do filho que tem a condição do TEA. Foi uma longa caminhada onde
durante este caminho muitos desafios se apresentaram, muitas dúvidas, angústias,
medos, sofrimentos e acima de tudo um sentimento de impotência diante do
desconhecido. Durante o processo de busca pelo diagnóstico do pequeno Miguel o
casal foi surpreendido pelo destino, André foi diagnosticado tardiamente com a condição do TEA. Diante desta bonita história
de superação e amor, por três anos o casal decidiu fazer eventos no mês de
Abril em conscientização ao Dia Mundial Autismo. Este sonho foi crescendo,
tomando forma, muitos parceiros foram aderindo a causa e compreendendo a importância
de se promover ações de conscientização e humanização ao público na condição do
TEA.
Hoje
o projeto Balão Azul, se tornou a Associação de Pais e Amigos dos Autistas,
devidamente regulamentado em todos os órgãos competentes para atuar no formato
de ONG na cidade de Valinhos ofertando diversos tipos de serviço ao público
diagnosticado na condição do TEA e também para seus familiares.
MISSÃO…
A
missão do APAA Balão Azul é promover eventos de conscientização sobre o TEA
Transtorno Espectro Autista, assim também como ofertar condições para um
diagnóstico precoce a fim de garantir que todo indivíduo devidamente
diagnosticado tenha plenas condições de se desenvolver como ser humano e como
cidadão de direitos e deveres.
VISÃO…
Promover
ações sociais de cunho inclusivo para quebras de paradigmas e preconceitos.
VALORES…
Valorização
total do ser humano, respeitando seus valores morais e éticos, sendo contra
qualquer tipo de discriminação.
A
APAA Balão Azul, promove diversas ações em vários eixos da sociedade
contribuindo de maneira eficaz na melhora da qualidade de vida do público
diagnosticado com TEA Transtorno Espectro Autista.
No
viés educacional, Associação de Pais e Amigos dos Autistas promove parcerias
com escolas devidamente regulamentadas, com profissionais devidamente
capacitados para aplicação de cursos, que tem como objetivo facilitar o manejo
de crianças, adolescentes e adultos diagnosticados com Transtorno Espectro
Autista. O curso pode ser direcionado a pais, familiares, cuidadores e
professores.
No
viés da saúde, a Associação de Pais e Amigos dos Autistas, orienta pais e familiares, sobre os caminhos necessários
para obtenção de um diagnóstico precoce, oferecendo os serviços médicos sem
nenhum custo às famílias de baixa renda, dentro deste processo estão inclusos
consultas com a equipe multidisciplinar que envolve médicos psiquiatras,
neurologistas, psicólogos, pediatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas entre
outros de acordo com as comorbidades apresentadas pelo indivíduo diagnosticado.
Após o diagnóstico Associação de Pais e Amigos dos Autistas encaminha o
assistido para entidades responsáveis pelo desenvolvimento das potencialidades.
Além
do acolhimento às famílias com suporte psicológico, através de grupos
terapêuticos ou acolhimento individual.
No
viés social, a Associação de Pais e Amigos dos Autistas promove eventos de
conscientização no mês de Abril, que é o mês escolhido mundialmente para a
conscientização do Autismo, além de um novo projeto, que tem como intuito
conscientizar a sociedade o ano todo através de ações com o Balão Azul
itinerante
O
propósito do Baião Azul Itinerante, é
levar para todos os bairros de Valinhos, ações sociais, juntamente com a
conscientização preventiva, expor a população a necessidade da busca de um
diagnóstico precoce diante dos primeiros sinais apresentados pela criança.
No
viés cultural, Associação de Pais e Amigos dos Autistas, tem como intuito
promover eventos, exposições entre outras ações, para divulgar o talento e as
habilidades específicas desenvolvidas pelos Autistas.
No
viés profissional, Associação de Pais e Amigos dos Autistas, promove parcerias
com grandes empresas, para o desenvolvimento de habilidades e treinamentos para
a inclusão no mercado de trabalho, a fim de promover um direito social Autista.
A associação de Pais e Amigos dos
Autistas é uma entidade sem fins lucrativos, sua subsistência está condicionada
a parcerias com empresas e comércios, por doações espontâneas da população, a
promoção dos serviços oferecidos pela instituição, é totalmente voluntário,
sendo transparente em suas ações financeiras.
Para maiores informações entre em contato através das redes sosciais:
Facebook : https://www.facebook.com/apaabalaoazul/
Instagram : @apaabalaoazul
Elis Regina Peres - CRP 06/152582
Graduada pela Universidade
Paulista -Unip Campinas- SP, cursando especialização em neuropsicologia pelo
Instituto Wpos.
Atualmente atua como psicóloga
clínica com ênfase em atendimento infantil.
Trabalhou em ONGs como psicóloga,
realizando trabalhos com crianças em situação de vulnerabilidade social.
Interessa-se por trabalhos com PcD e TEA.
Contato : 19-98971-7415
Profª Doutoranda Shirley Vilhalva voluntária e docente da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.- UFMS e Profª Mestra – UNICAMP – Mirian L. F. Santos Silva
VOCÊ ACREDITA
QUE A SURDEZ É UMA DOENÇA?
Muitas pessoas
acreditam que a surdez é uma doença, mas não é!!!!! Uma determinada doença pode
causar a surdez, como a meningite, a rubéola, sarampo, entre outras. De acordo
com a estatística do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), por volta de 9,7 milhões de brasileiros têm algum
tipo de deficiência auditiva, sendo que esse total representa 5,1% da população
do país. Mais de 2,1 milhões de pessoas se
declararam com deficiência auditiva severa, sendo 344,2 mil surdas e 1,7 milhão
com grande dificuldade em ouvir, estas últimas são chamadas de deficientes
auditivos.
A maioria das pessoas reconhecidas como deficientes
auditivas, conseguem ouvir, com o uso de aparelhos auditivos, muito diferente
dos surdos que não escutam nem com o aparelho. Alguns surdos, a família opta
por realizar a cirurgia para colocação do Implante Coclear, o que não garante
que o implante vá funcionar.
Importante
esclarecer que a pessoa surda apresenta uma particularidade linguística,
portanto, deve ter em sua base cognitiva, a Libras como primeira língua e o
português, como segunda língua - escrita. Muitas pessoas acreditam que a surdez é
uma doença, mas não é! Como pesquisadoras da área da Educação de Surdos, que
somos, podemos afirmar que existe um grande desconhecimento a respeito do que é
a surdez e sua singularidade, principalmente pelos pais ouvintes ao se
depararem com um filho surdo, pela primeira vez, neste momento acabam buscando apenas
no discurso clínico, orientações de como agir com seu filho, na tentativa de
“normalizar” esta criança. É importante que os
pais tenham consciência que o caminho que irão seguir é extremamente importante,
desconhecido e complexo, para que se cheguem ao desenvolvimento pleno desta
criança; e na maioria das vezes, a família, ao invés de se adaptar à realidade da
criança, busca o caminho inverso; desejando que o filho surdo aprenda somente a
oralização. O ideal seria que os pais buscassem profissionais que possam
esclarecer e darem orientações e encaminhamento aos serviços da especialidade
médica otorrinolaringologia e fonoaudiologia, para realização dos exames
necessários a fim de se identificar o grau da surdez e posteriormente, no caso
de comprovação, buscar orientações educacionais bilíngues. Em nossa região
temos o Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Prof. Dr. Gabriel O. S. Porto” da
UNICAMP - CEPRE – que é referência nessa área. Esta instituição existe
há 47 anos, atendendo pessoas com deficiência
visual, surdez e alterações de linguagem, contando com uma equipe de excelência
para o trabalho com as crianças surdas, desde bebê, utilizando metodologia
adequada, oferecendo ambiente linguístico propício a estes pequenos, que além de
aprenderem Libras, têm convívio com outras crianças surdas, seus pares - o que
é muito enriquecedor.
A família também
é inserida nesse contexto do aprendizado, desta forma, pode compreender a
importância da convivência bilíngue da criança surda, tendo em vista que esta
convivência a levará ao bem estar emocional, psicológico e cognitivo, entre
outros tantos benefícios, bem como contribuir para que esta criança se sinta
parte da família. Atualmente o CEPRE conta com duas profissionais surdas, uma delas
é pedagoga e a outra, professora de Libras, e são referência de identidade para
os alunos surdos, o que é muito importante para eles. Neste espaço a família
também pode aprender Libras, o que é essencial, para que possa interagir com
seu filho surdo; desta forma a criança poderá se desenvolver plenamente e não se
sentirá excluída dentro de seu núcleo familiar, como acontece normalmente.
Conseguimos ilustrar de maneira muito efetiva e positiva, essa interação entre
a família e o surdo, ao citar a frase de Samuel Camargo, um pai ouvinte que, ao
se deparar com sua filha surda, buscou se adaptar e fazer parte do mundo dela
efetivamente, por entender e aceitar sua particularidade linguística: “Minha
filha entrou no meu mundo quando ela nasceu e eu entrei no mundo dela quando
aprendi Libras”, Camargo nos dá um grande exemplo a ser seguido – Doença não,
diferença linguística sim!!!!!! Desta forma, quando a família matricular a criança surda na escola regular,
esta já terá uma língua constituída, e a família contará com a força e o conhecimento
para reivindicar e exigir do sistema educacional, a Educação Bilíngue, direito
da criança surda, adquirido através da Lei 10436/02, regulamentada pelo decreto
5626/05.
Contatos das autoras:
Mirian L. F.
Santos Silva: m981828@g.unicamp.br
Shirley
Vilhalva: shivi323@hotmail.com
Informações
sobre o Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação - CEPRE:
Endereço: Rua
Tessália Vieira de Camargo, 126 – Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP
13083-887 – Campinas, SP, Brasil
Telefone: (19)
3521-8801
Fone-fax: (19)
3521-8814
E-mail: cepre@fcm.unicamp.br
FONTE : MATÉRIA PUBLICADA NA 2ª EDIÇÃO DO JORNAL ASADDEP - PAULINIA - JANEIRO DE 2020
IMAGEM FREEPIK-GRATUITA
"O QUE NÃO TE DESAFIA, NÃO TE TRANSFORMA"
“O que não te
desafia, não te transforma”. Esta frase, de quem desconheço a autoria, sempre
me levou a refletir sobre os desafios enfrentados e superados para chegar a ser
quem sou hoje, tanto profissionalmente e quanto como ser humano. Sou a filha
mais nova de meus pais, considerada como falavam antigamente, “a raspa do tacho”,
a julgar pela diferença de idade entre os meus irmãos mais velhos, e eu; minha
irmã mais velha com 12 anos de diferença, seguida do irmão mais velho com 11 e
do outro com 8 anos. Nasci na capital, mas fui criada no interior do estado de
São Paulo, nas cidades de Campinas e Valinhos, desde os 11 meses de vida. Por
conta do trabalho de meu pai, nos mudamos para Valinhos, e inicialmente comecei
a estudar em uma escola do Estado; porém um fato marcante me traumatizou a
ponto de não mais conseguir estudar nesta escola. À época eu estava com 9 anos,
um colega de classe se dirigiu até o cesto de lixo, para apontar seu lápis, já
que naquela tempo não existia apontador com depósito; sem querer o menino
acabou derrubando a sujeira no chão. Para a estranheza e espanto da sala toda,
a professora se dirigiu até ele muito brava e tascou-lhe uma mordida em sua
orelha com tanta força, que chegou a sangrar. Foi um choque, e aquela atitude
me marcou demais. Cheguei em casa chorando, senti muito pelo meu colega e
também por pensar que aquela cena poderia se repetir com outros alunos e
inclusive comigo. Minha mãe fez de tudo para me consolar, mas, mesmo sendo
criança, eu havia tomado uma decisão, acatada pelos meus pais: naquela escola
eu não estudaria mais. Foi então que meus pais
me transferiram para o SESI. No primeiro dia de aula, ainda muito apreensiva,
fui recebida pela professora que me acolheu de forma carinhosa e muito
solidária, tendo em vista que havia sido informada anteriormente do ocorrido e
para minha surpresa, nesse mesmo dia, o meu colega, vítima da fatídica mordida
também começou a estudar na mesma sala que eu; ele estava assustado ainda e com
um grande curativo na sua orelha.
Foi no SESI que conclui o Ensino Fundamental I e II; e
o ensino médio em um Colégio Particular na cidade de Campinas.
Iniciei a graduação de Biologia na PUC Campinas, no
período noturno, tendo em vista que durante o dia trabalhava em um Banco na
cidade onde moro, Valinhos; porém nunca deixando de sonhar com a possibilidade
de um dia poder escolher, não só uma graduação que fizesse parte daquilo que eu
almejava, mas também que fosse uma Universidade pública... Logo nos primeiros
meses de aula, percebi que o curso de Biologia, não me acrescentava nada, não
me desafiava, não me instigava... entretanto, não sabia o que poderia fazer,
uma vez que eu não queria continuar o curso, já que também não gostaria de
desapontar as expectativas dos meus pais. Foi quando recebi uma promoção no
Banco e passei a exercer um cargo de chefia, me “permitindo” sair muitas vezes,
mais tarde do que o usual. Tal artimanha contribuiu muito para que eu começasse
“a perder o horário do ônibus fretado que me levava para a faculdade”, o que
vinha a colaborar com o meu propósito de arrumar um pretexto para não ir às
aulas, tendo em vista que eu não queria dar continuidade ao curso. Esta
situação começou a me prejudicar na faculdade em relação ao meu desempenho, e
de comum acordo com meus pais tranquei a matrícula, com a promessa de retornar
ao curso no ano seguinte, com a desculpa que voltaria a estudar, quando já
estivesse mais estabilizada no cargo de chefia, o que nunca aconteceu; primeiro
por que eu não queria e depois, porque minha vida tomou outro rumo, fiquei
noiva e resolvi me casar, mas não abandonar o desejo de buscar no futuro um
título acadêmico que viesse ao encontro dos meus verdadeiros ideais, com apoio
do meu noivo e hoje meu marido Edilson, que sempre me incentivou e aceitou
todas as minhas escolhas.
Passaram-se os anos e não voltei a estudar, porque
logo após o casamento parei de trabalhar no Banco, com a intenção de arrumar um
trabalho mais tranquilo para voltar aos estudos; porém com apenas três meses de
casamento engravidei do meu primeiro filho Brian, e dois anos após, do segundo,
Nathan. Ambas as gestações não foram programadas. MAIS UMA VEZ, MEU SONHO
ACADÊMICO FOI RELEGADO A UM SEGUNDO PLANO, uma vez que por conta da pouca idade
dos meninos e pelo fato de eu acreditar que a minha presença como mãe junto a
eles, nessa fase de vida era importante, fazendo com que ficasse muito difícil
voltar a estudar. O problema é que havia ficado uma lacuna, faltava algo.
Em 1997, depois de 10 anos de casada, com os meninos
já maiores, resolvi fazer um cursinho pré-vestibular em busca da tão sonhada
graduação. Fiz seis meses de cursinho, no início foi bem difícil, tendo em
vista que apesar de ler muito, não escrevia e nem produzia textos condizentes
com o esperado para quem se propunha a prestar um vestibular em uma instituição
tão concorrida como a Unicamp. Sentia muita dificuldade com o uso da gramática
nas produções de texto, mesmo lendo muito; porém, sempre fui muito determinada
e por estudar bastante e principalmente por acreditar que seria possível,
prestei vestibular na Unicamp para o curso de Pedagogia (por ser um curso que
oferecia a maior quantidade de disciplinas ligadas à psicologia, curso este que
não é oferecido nesta Universidade). Apesar de não ser o curso que eu tanto
queria, fiquei muito feliz com minha conquista, e como sempre fui apoiada pelo
meu marido e pela minha mãe, à época, meu pai já era falecido.
Os primeiros dias de Unicamp foram inesquecíveis em
todos os sentidos, já que era tudo novo e mais um grande desafio a ser
enfrentando, pois eu tinha consciência que encontraria muitos alunos recém-formados
no Ensino Médio e eu há tempo afastada dos bancos escolares. De toda forma, a
concretização do almejado sonho estava começando. Foram quatro anos de
aprendizado, de trabalhos, de dificuldades, de superação, de conquistas, de
relacionamentos, de amizades que acabaram me mostrando que a Pedagogia também
poderia fazer a diferença na minha vida. Terminei a graduação em 2001. Tão logo
conclui a graduação, no ano seguinte, comecei a trabalhar no Colégio Progresso
na cidade de Campinas como auxiliar de classe. Foi uma experiência bastante
proveitosa, porque muitas vezes tive a oportunidade de experienciar a atividade
docente e assim não ficar apenas auxiliando a professora titular da sala.
Fiquei nesse colégio apenas um ano, pois ao final do período letivo prestei
concurso para trabalhar como professora da rede de ensino do SESI, consegui uma
excelente classificação, a qual me permitiu escolher entre as três unidades
dessa instituição que existiam na minha cidade, as quais hoje extintas, tendo
em vista que foi construído um grande prédio, unindo todas as unidades,
considerado atualmente como o segundo maior do estado de São Paulo, com
capacidade para atender 1500 alunos em período integral.
Minha primeira experiência como professora do SESI foi
bem marcante, iniciei em uma sala de alfabetização com 40 alunos, muitos não
estavam alfabetizados ainda, e entre eles, havia uma aluna de 7 anos com sério
comprometimento intelectual e com um comportamento agressivo, dispersivo e sem
controle – esta aluna não conseguia permanecer sentada nos momentos necessários
para realizar as atividades propostas e nem realizá-las. Suas atitudes não
condiziam com o esperado para a faixa etária em que ela se encontrava, já que
não conseguia permanecer como os demais alunos em sala de aula. Tais atitudes
além dispersar a sala, atrasando a rotina dos alunos, me criava grande
desconforto, ansiedade e impotência, uma vez que, como professora não havia
sido preparada para enfrentar tais desafios e dificuldades. Aliado a tudo isso,
e com a falta de suporte por conta da instituição escolar – que também não era
preparada para acolher e atender as necessidades de um aluno com essas
características, minha visão em relação a suposta inclusão passou a ser mais
clara e crítica, uma vez que até o momento, nunca havia me deparado com uma
situação como aquela. O fato de eu nunca haver vivenciado uma experiência como
a tal, me obrigou a buscar soluções que apontassem caminhos, dessem subsídios e
suporte para enfrentar tal particularidade. Foi uma busca muito solitária, mas
no final a partir do que encontrei consegui não só superar esse desafio, como
também auxiliar a família e a aluna.
Mesmo trabalhando no SESI prestei outro concurso,
dessa vez para trabalhar na rede municipal de Valinhos, também como professora.
Fui aprovada e comecei a trabalhar em março de 2005. Trabalhando em duas redes
de ensino, nunca deixei de estudar, participava de todos os cursos de formação
continuada que ambas instituições ofereciam, principalmente os que envolviam
Alfabetização e Letramento, nos quais me especializei e atuo. Entretanto, ainda
assim sentia falta de conhecimento para lidar com as dificuldades encontradas,
não só com os alunos com algum tipo de deficiência, mas também com aqueles
alunos que não aprendiam sem nenhum motivo aparente. Resolvi então, fazer um
curso de especialização Lato Sensu em Psicopedagogia, que se iniciou em janeiro
de 2006 e terminou em 2007.
Trabalhar em duas redes de ensino ao mesmo tempo,
sendo o SESI uma rede particular e a prefeitura, pública, demandava muita força
de vontade e um “jogo de cintura” muito grande, ainda mais quando se opta por
continuar estudando. Conciliar família, trabalho, estudo e mais a
religiosidade, a qual sempre prezei muito, foi e é um grande desafio. Porém
nunca quis desistir dos estudos, mesmo tendo a consciência que seria preciso
fazer determinadas escolhas, tendo muitas vezes de abdicar de momentos
significativos com os familiares; continuei estudando, fazendo vários cursos e
inclusive dois de contação de histórias.
Em 2010, com a política do SESI em reduzir as salas de
aula, com o intuito de agregar todas as unidades em um único prédio, aceitei um
acordo e optei por sair e dobrar o período, com carga suplementar, na rede
pública na qual já trabalhava, porém mesmo com a especialização em
Psicopedagogia, ainda assim continuei sentindo a necessidade de buscar algo
mais. Por conta disso passei a me envolver com os movimentos políticos em busca
não só de conhecimento, mas de ações efetivas que melhorassem as condições na
educação, tanto para os alunos com deficiência, quanto para toda comunidade
escolar. Foi então que iniciei minha caminhada pelos congressos, seminários,
palestras e formação continuada, sempre buscando essa temática, procurando
compreender e aprender como trabalhar/lidar com o diferente e com a deficiência
para que a inclusão realmente acontecesse de forma eficaz e não segregadora,
como até hoje é possível vivenciar em sala de aula. Foi justamente neste
período que a problemática da educação inclusiva começou a ter um maior peso
para mim e passou a ser um desafio a ser superado em sala de aula.
No ano de 2011, por conta do meu envolvimento nas
políticas educacionais, fui convidada a participar da comissão organizadora
responsável por elaborar junto a comunidade o Plano Municipal de Educação, como
também preparar a conferência que daria legitimidade ao Plano. Em paralelo
atuei, por 4 anos, iniciando neste mesmo ano como Conselheira da Educação,
eleita pelos meus pares, sempre na busca de ações que pudessem trazer
benefícios concretos para a educação e consequentemente para o aluno e
professor.
Em 2012 recebi o convite para participar da I
Conferência Municipal da Pessoa com deficiência de Valinhos, com o objetivo de
escolher delegados para participarem da 3ª Conferência Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficiência. Nessa Conferência fui eleita delegada municipal, a fim
de participar das outras etapas, regional, estadual que culminariam na etapa
nacional que aconteceria em dezembro de 2012 no Distrito Federal, da qual
participei. Esta oportunidade foi muito valorosa, por ter me permitido a
oportunidade não só de estar presente nas conferências, como também de tomar
conhecimento das propostas apresentadas na Conferência Nacional e de todo
material divulgado nas conferências, como: livros, cartilhas, folhetos,
manuais, bem como conhecer pessoas engajadas nessa luta, muitas com as quais
ainda me encontro nesses movimentos e discussões.
Por conta dessa vivência, elaborei um projeto para
começar a educação especial e inclusiva no município onde moro; apresentei ao
responsável pela Secretaria da Educação, e com a aprovação deste, iniciei o
desenvolvimento em 2013. Porém, no final do mesmo ano, muitas mudanças foram
feitas na estrutura do projeto original por parte dos gestores, mudanças estas
que não condiziam com aquilo que eu acreditava, e por incompatibilidade de
ideais, resolvi não seguir mais com o projeto e retornei à sala de aula como
professora. Foi uma decisão extremamente dolorosa, porém necessária, uma vez
que, me fez desistir do projeto que eu havia idealizado e começava a tomar
forma, um cenário novo havia se descortinado e me identifiquei com todo esse
trabalho desenvolvido, o qual me aproximou muito da realidade dos alunos com
deficiência, que “supostamente” eram tidos como incluídos na rede regular de
ensino.
Houve todo um movimento na busca não só de localizar
os alunos apontados com deficiência, mas também um trabalho de mapeamento e
cadastramento destes estudantes, bem como de suas deficiências, a fim de
promover melhorarias para sua efetiva inclusão, buscando para isso, parcerias
com entidades comprometidas com a causa, com a intenção não só de oferecer
suporte, mas também orientação a todos os profissionais envolvidos nesse
contexto e subsídios, tanto às crianças com deficiências, quanto à comunidade
escolar (gestores, professores e familiares).
Por conta do projeto, resolvi fazer outra
especialização, desta vez mais específica: Educação Especial e Inclusiva.
Iniciei em 2013 e conclui no final de 2014. Ao mesmo tempo, fiz um curso básico
de Libras no primeiro semestre de 2013, em seguida, para um maior conhecimento,
procurei a professora Doutora Regina Maria de Souza, da Faculdade de Educação
da Unicamp, uma referência na área da Educação de Surdos, que muito solicita,
além de sempre ser prestativa e atenciosa, não só me orientou, bem como também
mostrou-me caminhos pelos quais eu nunca havia percorrido e que me levaram a
fundamentais conhecimentos.
Sempre admirei o trabalho da professora Regina e sua
trajetória de luta junto à comunidade surda. Souza é um exemplo de resiliência
e de alteridade, tão importante para todos que acreditam que é possível fazer a
diferença na vida do semelhante, respeitando-o, vendo-o como o outro com suas
particularidades e as valorizando. Com ela aprendi não só com e por seus
ensinamentos, mas sim por suas ações e ativismo junto ao movimento surdo, os
quais me serviram e ainda servem de incentivo na busca de aprimorar ainda mais
a minha formação. A professora em questão foi responsável também por muitas
desconstruções de conceitos que eu trazia; conceitos estes que eram presos a
uma visão distorcida, não só em relação à Educação de Surdos, mas também em
relação ao próprio sujeito surdo, oferecendo subsídios para que eu repensasse
meu lugar enquanto profissional e ser humano que sou, e desta forma,
transformasse a minha maneira de enxergar o surdo de uma forma jamais
imaginada. Mostrou-me ainda o lugar que eu poderia ocupar dentro da comunidade
surda e até onde eu poderia e posso agir, para ser não só respeitada pelos
surdos, mas também aceita, aprendendo que devo sempre lutar com e nunca
por eles. Nunca à frente, sempre ao lado!
Graças ao convite da professora Regina, após este
reencontro, comecei a participar do grupo surdo de estudos da Faculdade de
Educação da Unicamp, que ela coordenava. Foi então que passei a ter um contato
maior com alguns surdos e conheci a doutora Lilian Cristine Ribeiro Nascimento
professora desta mesma Faculdade, que também contribuiu significativamente com
a minha mudança de concepção e conceitos.
Esta experiência me promoveu um verdadeiro e
importante mergulho no universo surdo, universo esse completamente desconhecido
por mim. Com o passar do tempo foi possível perceber que a perspectiva e os conceitos
que eu trazia sobre os surdos não condiziam com a realidade, tendo em vista que
eu pouco conhecia ou praticamente nada sabia sobre estes; e muito menos sobre
sua educação, mesmo tendo concluído o curso básico de Libras e o curso de
formação em Educação Especial e Inclusiva. Souza foi um divisor de águas em
minha carreira profissional tanto quanto de vida também!
Iniciando a caminhada junto à comunidade surda,
vivenciei uma experiência que me marcou profundamente, em 2014, e que fez com
que me aproximasse mais ainda dos surdos passando a fazer parte do movimento
surdo como ativista. À convite da professora Regina, fui passar o dia em
Campinas com a então, Doutora surda Gladis Perlin, atualmente, Pós Doutora e
sujeito desta pesquisa, juntamente com Letícia Navero, e Ellen Oliveira
intérpretes da Língua de Sinais. Perlin, à época, morava em Florianópolis SC e
estava hospedada em um hotel no centro da cidade. A pesquisadora estava em
Campinas com a intenção de realizar seu Pós-doutorado na Faculdade de Educação
da Unicamp. Passamos um dia muito gostoso, almoçamos e depois passeamos no
Shopping. Ao final da tarde, quando retornamos ao Hotel, eu, Letícia e Perlin,
no qual ela estava hospedada, percebemos que o mesmo estava com problemas
sérios em sua infraestrutura. Rapidamente verificamos que havia outro hotel
maior em frente a este, achamos prudente transferi-la para sua melhor
acomodação e conforto. Tão logo adentramos neste hotel, solicitamos ao
recepcionista a hospedagem para a pesquisadora. Foi quando este, ao perceber
que Perlin era surda, se mostrou muito incomodado e antes mesmo de esperar
qualquer explicação ou informação de nossa parte, de pronto disse que o Hotel
não estava preparado para recebê-la; por ela ser surda e, portanto, não poderia
hospedá-la, a não ser que Perlin tivesse um acompanhante consigo.
Ainda me recuperando do “choque” que senti ao ouvir a
negativa do recepcionista, procurei argumentar que Perlin, por ser surda, não
necessitava de quarto adaptado e que se houvesse aviso de incêndio luminoso, o
despertador vibratório e o sensor luminoso para a porta seria o ideal. Porém,
como eu havia participado de um seminário sobre surdez em Caxias do Sul, RS, e
no hotel onde eu me hospedei, apesar de não ser adaptado, tinha vários surdos hospedados.
Procuramos, Letícia e eu, convencer o rapaz para que aceitasse a hospedagem de
Perlin; o recepcionista então ligou para o gerente, uma vez que o mesmo não se
encontrava presente, e segundo o rapaz, para nossa surpresa, o gerente deu a
mesma negativa. Letícia já muito nervosa procurou também argumentar, citando a
Lei de acessibilidade e buscando até comparar Perlin ao rapaz, dizendo a ele
que se tratava de uma doutora, com muito conhecimento, extremamente conceituada
e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Após argumentarmos muito e já totalmente sem sabermos
como agir, o que dizer ou o que fazer, (abro um parêntese para dizer, que hoje
a partir do conhecimento que adquiri, com muita propriedade chamaria a polícia
para resolvermos o caso e principalmente para tomarmos medidas legais afim de
que os direitos de Perlin, como cidadã, fossem respeitados e garantidos, bem
como também cobrar pelo o preconceito tão fortemente ali vivenciado por ela).
Perguntei para a própria pesquisadora o que ela gostaria que eu fizesse, foi
então que ela, com o olhar muito triste, me disse que não precisava fazer nada,
pois já estava acostumada a passar por aquela situação. À partir daquele dia
tomei a decisão de sempre estar junto, ao lado, lutando com os surdos, pois me
coloquei no lugar de Perlin e senti muita vergonha por ter presenciado tamanha
falta de conhecimento, tanto do recepcionista quanto do próprio gerente.
Solidarizei-me com o ocorrido e a partir daquele fatídico dia, passei a ter um
novo olhar em relação ao povo surdo. E minha indignação era: como um hotel,
localizado no centro de uma metrópole, tal qual Campinas, pode ter funcionários
tão despreparados agindo daquela forma? Isso era e é inadmissível!
Hoje posso afirmar que faço parte da comunidade surda
com muito orgulho, tendo muitos colegas surdos e uma grande amiga surda Shirley
Vilhalva que também é professora e tem um grande diferencial; ela também
compartilha da minha religiosidade, o que nos aproximou muito e nos faz não só
estudarmos juntas, já que participamos de um grupo de WhatsApp voltado
exclusivamente para isso, com surdos e ouvintes de todo Brasil; mas também
participar de movimentos voltados a nossa opção religiosa.
Em 2016 houve uma discussão numa página de uma rede
social da cidade onde moro, sobre um problema relacionado a um estudante surdo
que estava tendo dificuldades com transporte escolar, pois o mesmo estudava em
uma escola pública Polo Bilíngue para surdos, na cidade de Campinas e o
município onde moramos se responsabilizava pelo transporte deste aluno, uma vez
que em Valinhos não existe nenhuma escola nesse molde. Justamente pelo fato de
ser professora e conhecer muitos moradores deste município, acabei sendo
marcada na discussão, por uma professora conhecida minha, afim de que eu não só
tomasse ciência do que estava acontecendo, mas também pudesse de alguma forma
ajudar, por saber do meu envolvimento com a comunidade surda. Foi a partir
desse fato que tive a ideia de trazer a professora Regina para dar uma entrevista
na Rádio Comunitária de Valinhos com o intuito de discorrer sobre os direitos e
a educação de surdos. Com apoio de algumas pessoas foi possível que a
entrevista tivesse acessibilidade, mesmo sendo em uma rádio (uso do som), houve
a participação de duas intérpretes de libras e a filmagem pôde ser ao vivo via
rede social.
Iniciou-se a partir dessa entrevista, um movimento com
a intenção não só de agregar surdos moradores de Valinhos, como também
simpatizantes com a causa surda, com a intenção de criar uma associação de
surdos na cidade. O movimento foi crescendo, muitas pessoas se uniram e nasceu
o Movimento Surdo de Valinhos, MSV, que adquiriu força e conseguiu com apoio de
vereadores, a primeira Lei nº 5330, de 19 de setembro de 2016, que instituiu o
“Dia do Surdo no município de Valinhos” e a segunda, Lei nº 5.393, de 11 de
janeiro de 2017 que instituiu o “Dia Municipal da Língua Brasileira de Sinais –
Libras”, duas grandes vitórias.
Participando ativamente do MSV, com apoio e
orientação, principalmente dos surdos que fazem parte da liderança do Movimento
Surdo Nacional, a professora Mestre Shirley Vilhalva, e o também professor
Neivaldo Zovico, diretor da Federação Nacional de Educação e Integração de
Surdos de São Paulo, Feneis, com o engajamento dos surdos de Valinhos e dos
apoiadores ouvintes, me apaixonei ainda mais pela causa, por ter a convicção
que é extremamente justa e nobre, pois o MSV me aproximou muito do povo surdo e
de sua língua viva, que pulsa, vibra, cheia de nuances e que por ser viva
preservou e preserva a identidade da pessoa surda me fazendo sair da
epistemologia clínica e ir para a cultural.
Com
todo esse envolvimento, participei por 3 anos do Projeto de Extensão e Assuntos
Comunitários intitulado - Língua Portuguesa para Jovens e Adultos Surdos: ler e
escrever na segunda língua, a convite da professora doutora Lilian Nascimento,
que me enche de gratidão, por sua consideração e incentivo; e inserida também
na comunidade surda ativamente, fazendo parte das comissões organizadoras que
abarcam movimentos de luta, de visibilidade, de legitimidade, voltados ao povo
surdo, povo este que aprendi a admirar, a respeitar e acima de tudo valorizar.
E buscando ampliar meus conhecimentos na área de terapias holísticas, área que
me atrai muito também, participei no ano passado de dois cursos voltados a terapias
integrativas, o curso de Reiki, o qual conclui até o nível de mestrado e o
curso de Barras de Access, cursos esses que hoje me permitem, atender pessoas
com ou sem deficiência e surdos, além de ministrar cursos para esse público.
Atualmente estou atendendo no Espaço Ser em Valinhos.
Contem comigo, que tenhamos todos uma linda jornada!
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